Terminais SEI: gente de mais, estrutura de menos

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Passageiros de mais e infraestrutura de menos. Essa é a realidade da maioria dos terminais integrados em operação na Região Metropolitana do Recife. Muitas das estações do Sistema Estrutural Integrado (SEI) estão saturadas e não é de hoje. A degradação física é visível e a desordem provocada pelos ambulantes está por toda parte. Sem espaço para realizar operação eficiente, sofrem as 800 mil pessoas transportadas diariamente pelo sistema, e, na sequência, motoristas, cobradores, fiscais e funcionários dos terminais, alvos constantes da indignação dos usuários.

Criado há 22 anos, o SEI tem hoje 12 terminais integrados, sete deles ligados ao metrô. Em mais de 90% o saturamento é evidente. Os que não enfrentam problemas do tipo é porque são pequenos e têm menos importância na operação do SEI. Acompanhar o dia a dia nas principais estações significa presenciar o aperto vivido por muitos passageiros, a maioria pessoas humildes, que optam pela integração como forma de gastar menos com as passagens, mesmo enfrentando viagens mais longas. O SEI permite vários deslocamentos pelo Grande Recife com o pagamento de apenas uma tarifa.

No terminal integrado do Barro, Zona Oeste, quarto maior do sistema em quantidade de passageiros, mas um dos mais importantes por ser a principal ligação do Sul com o Norte do Grande Recife, a situação beira o caos. Em pelo menos duas das sete linhas que rodam no local, os passageiros brigam para entrar no ônibus nos horários de pico. As filas não são respeitadas. Vale tudo na hora de embarcar e garantir a viagem para o trabalho ou para casa. Mulheres e idosos levam a pior.

“Sem dúvida, o grande problema daqui é a desorganização. O terminal até que é grande. O que incomoda mesmo é a confusão na hora de entrar no ônibus. Os coletivos demoram e não dão conta da quantidade de passageiros. É uma verdadeira guerra para conseguir entrar”, confirma Priscila da Hora, 27 anos, que mora no Ibura e todos os dias faz integração no Barro. O clima é tão tenso que sete seguranças particulares, pagos pelo Grande Recife Consórcio de Transporte, passam o dia no local para intimidar os fura-filas. Na Macaxeira, a segunda maior unidade do sistema, as filas dão voltas.

A degradação da estrutura física de muitos terminais integrados também é gritante. A unidade de Abreu e Lima, na Região Metropolitana, destaca-se. Embora seja limpo e tenha menos buracos e goteiras do que o do Barro, por exemplo, o lugar impressiona. Nem deveria ser chamado de terminal integrado. Fica espremido entre as duas pistas da BR-101 que cortam o Centro do município, no pulmão do comércio da cidade. A única vantagem é estar às margens de um corredor de ônibus triplicado, como é o caso da PE-15, que começa em Paulista, município vizinho a Abreu e Lima, e vai até Olinda, ao lado da capital.

“Até agredido a gente já foi. Os passageiros se revoltam e descontam a ira nos funcionários. Essa estação já deveria estar desativada há muito tempo ou, no máximo, operando com uma ou duas linhas”, reclama um dos operadores que trabalham na unidade de Abreu e Lima. Eles não podem se identificar para evitar represálias da empresa onde trabalham. A unidade não possui sequer área de estocagem. Os ônibus se amontoam como podem. No Barro, os coletivos ficam no entorno da estação porque a parte interna já não comporta a quantidade de veículos.

Dos 12 terminais do SEI, nenhum representa tão bem a improvisação incorporada pelo poder público como o terminal Joana Bezerra, área central do Recife, ao lado do Coque, uma das comunidades mais violentas da capital. O lugar não tem regras. Até pouco tempo atrás, os passageiros entravam sem pagar no terminal, com o aval dos traficantes e ladrões da comunidade. Os funcionários que barrassem eram ameaçados de morte. A unidade se resume a uma fileira de paradas de ônibus, dispostas uma ao lado da outra, que tornam-se insignificantes quando os 121 mil passageiros diários chegam ao local.

Os ambulantes são um episódio à parte nos terminais do SEI. Já se incorporaram ao cenário. Estão em praticamente todas as unidades, desarrumando tudo. No Barro, em Jaboatão dos Guararapes e Abreu e Lima formam uma espécie de cinturão no entorno das estações. Sombrinhas velhas, toldos de plástico e suportes são improvisados pelos comerciantes, descaracterizando os terminais.

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